Como a aurora precursora
Do Farol da divindade
Foi o vinte de setembro
O precursor da liberdade
Mostremos valor constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda a terra
Mas não basta p’ra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo
Este é o hino Rio-Grandense (Letra: Francisco Pinto da Fontoura; Música: Joaquim José de Mendanha), sempre entoado com muito louvor pelo povo gaúcho. Hoje, 20 de setembro, ele foi cantado com muito mais amor em todas as cidades do Rio Grande do Sul e provavelmente também pelos gaúchos espalhados pelo mapa do Brasil.
O mês de setembro sempre foi muito importante para os tradicionalistas gaúchos e o dia 20 representa a data máxima para o Estado e para o orgulho do povo. Hoje encerra-se a Semana Farroupilha, iniciada no dia 13 de setembro em todas as localidades do Rio Grande, desde o menor distrito até a Capital.
Esse momento de festa ocorre em todos os recantos como forma de relembrar a Revolução Farroupilha iniciada em 1835 e que durou 10 anos pelas paragens do nosso Estado, atingindo inclusive a fronteira com Santa Catarina. A minissérie da Globo, A Casa das Sete Mulheres, retratou parte dessa revolução. Quem assistiu deve lembrar do que se trata e entender um pouco a que estou me referindo.
A Revolução Farroupilha foi um marco da história e formação política do Estado. Por isso, a Assembleia Legislativa definiu o dia 20 de setembro como feriado. Como sempre saudosista e ligada aos eventos desse cunho, não posso deixar de lembrar do meu Estado e de todas as Semanas Farroupilha que frequentei durante os 17 anos que morei em Bagé.
As festividades começaram no último domingo com a chegada da Chama Crioula à cada município. Milhares de cavaleiros se deslocam até Porto Alegre para buscar uma centelha dessa chama que simboliza a Revolução. Dias, semanas em comitiva na estrada, a cavalo. Alguns, dependendo da distância, cavalgam bem mais que os outros. Esse grupo responsável por buscar a chama, retorna no dia 13 de setembro. Em cada cidade, em local pré-definido, geralmente uma praça histórica, milhares de pessoas já aguardam pela sua chegada.
Às 18h em ponto iniciam-se as comemorações, com a entoação do Hino Nacional e do Hino Rio-Grandense. Após, um representante de cada CTG da cidade colhe uma parte dessa chama e leva para cultuar no seu Centro de Tradições. A chama principal fica acesa na praça até o dia 20. São montados acampamentos de cada CTG que se revezam para não deixar a chama apagar.
Os sete dias são marcados por muita festa, comemoração, música tradiconalista, apresentação de invernadas, rodeios, churrasco em fogo de chão, chimarrão, poesia, entre outras festividades. Enquantos uns ficam no CTG, outros ficam nos acampamentos, outros aparecem a noite para prestigiar os shows, e por aí vai. É uma reunião do povo gaúcho para preservar o legado deixado por nossos antepassados. O momento é de reverenciar.
Tudo isso culmina com o desfile do dia 20. Na ocasião, os diversos grupos tradicionalistas, CTGs ou piquetes vão às ruas, devidamente pilchados, mostrando a imponência de seus cavalos, charretes e prendas. A organização fica por conta do Movimento Tradicionalista Gaúcho, órgão maior de fiscalização de CTGs, que também avalia a beleza, organização e número de participantes de cada Centro.
As pessoas que não participam se reunem para assistir ao desfile na avenida principal da cidade. Palco de autoridades governamentais também é montado. Envolvem-se nessas festividades crianças (algumas com menos de um ano de idade) até idosos, acostumados com a vida do campo. A Semana Farroupilha é a demonstração de igualdade, consciência viva e respeito à história!
Em Bagé, os tradicionalistas se reunem todo ano na Praça das Carretas, e desfilam pela Avenida Sete de Setembro. Não há como não sentir saudades desses momentos. A essa hora ainda devem estar nos acampamentos da Praça, curtindo os últimos shows e andando a cavalo no contorno. Amanhã é segunda-feira. Tudo recomeça, tudo volta ao normal, mas o sentimento

HISTÓRIA - Por Emília Fernandes
A Revolução Farroupilha, iniciada em 20 de setembro de 1835, e que durou cerca de 10 anos, envolveu em sucessivos e espetaculares combates, segundo os historiadores, cerca de 20 mil homens e mulheres em luta, resultando na morte heróica de aproximadamente 3.500 pessoas, em sua maioria revolucionários.
Unindo e mobilizando os farrapos, sob a liderança de homens e mulheres do porte de Bento Goançalves, Giuseppe Garibaldi, David Canabarro, Antônio da Silva Neto, Domingos Crescêncio e Anita Garibaldi, estava o sentimento de rebeldia contra a centralização do Poder Federal, que se manifestava, de forma especial, na espoliação econômica da região.
Entre as principais causas do levante, estavam a penalização dos produtos agropecuários, especialmente o charque, com altos impostos e, também, a expropriação e desvio dos recursos acumulados no Estado, até mesmo para pagar dívidas federais junto à Inglaterra.
Mas, além disso, a Revolução Farroupilha transformou-se em um momento de construção e afirmação dos princípios sociais, políticos, econômicos, culturais, e, talvez, principalmente ideológicos, que orientam a sociedade gaúcha até hoje.
Apesar da guerra, do ataque constante do poder imperial, os rebeldes farrapos mantiveram a atividade econômica, desenvolveram as estruturas de poder, tanto civil quanto militar, e introduziram revolucionárias práticas democráticas.
Em 1837 e 1838, libertaram os escravos, que haviam participado da revolução; reduziram os impostos sobre exportação e restabeleceram o imposto sobre importação de gado; criaram uma fábrica de arreios e outra de curtir couros e promoveram o recenseamento da população.
Ainda, dentre as medidas mais importantes, institui-se a Assembléia Constituinte e o sistema eleitoral baseado no sufrágio universal, com voto obrigatório e apuração perante o povo reunido. O processo revolucionário, em sua radicalidade, também foi determinante para aprofundar a definição do perfil da mulher gaúcha, que, no rigor da guerra, destacou-se pela determinação, iniciativa, objetividade, ousadia e coragem.
Além daquelas que participaram diretamente da revolução, milhares de mulheres, na ausência dos homens, deslocados para a guerra, passaram a responder integralmente pelas atividades produtivas, pelas questões sociais, pela administração das propriedades e pela educação da família, bem como, todas as demais responsabilidades.
A Revolução Farroupilha não teria sucesso sem a participação também heróica, dessas milhares de mulheres anônimas. Aliás, arrisco dizer que, considerando o fato do Rio Grande ter vivido praticamente 100 anos em guerras fronteiriças constantes, a história do Estado, e mesmo do Brasil, seria diferente, não fosse a atuação da mulher.
A Revolução Farroupilha, portanto, deixou muitos ensinamentos, dentre os quais, certamente, destacam-se o sentimento de soberania em relação ao poder central, o profundo espírito de integração da sociedade com o poder público e um grande senso de patriotismo.
Tal reconhecimento ensejou ao povo sulino, sensorialmente, o sentimento de firmeza de caráter e de ação dos seus ancestrais, sensibilizando-o como um seu predestinado continuado no tempo e no espaço.
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